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OS CLÁSSICOS E OS CLÁSSICOS!
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Resumidamente poder-se-ia dizer que "os clássicos do cinema são as obras imperecíveis pelo tempo, quando a sua concepção como arte cinematográfica, ou pelo menos a sua idéia ou contribuição para o desenvolvimento do roteiro ou técnicas de filmagens seja um marco que não se pode contestar, mesmo que os filmes, hoje sejam vistos como ultrapassados, e por vezes, ingênuos. E que muitos destes clássicos renomados pela crítica especializada internacional foram realizados pelos, chamados Grandes Mestres do Cinema, e vendo as obras deles podemos detectar o estilo de cada diretor, e assim nos encantar pelo cinema mudo, pelo cinema de autor, pelas grandes idéias e pela evolução das técnicas de filmagem, que devem ser observadas dentro do contexto da época de cada obra. É maravilhoso acompanhar a revolução conduzida pelos grandes diretores, os principais responsáveis pela estética cinematográfica moderna, e que são uma eterna fonte de aprendizado para todas as gerações que amam, fazem ou venham a fazer cinema". (Na página dos diretores falaremos das contribuições destes mestres.)
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Sim! Tudo isso acima é verdade. Mas é muito “técnico” demais a explicação dada. Portanto, prefiro dar nomes aos “bois!” Já que a idéia hoje em dia é resumir tudo, opto por exemplificar os clássicos em duas vertentes: os da chamada fase clássica do cinema americano e as obras que contribuíram com inovações de linguagem ou de técnicas de filmagens. Por não ter uma definição melhor, no momento, darei os nomes de “Expressividade Cinematográfica” e "Novidade Cinematográfica”. Porém, antes de qualquer consideração, dizer que um filme para ser considerado um clássico, como o resumo diz acima, temos que verificar o tempo de “vida” da obra! Isto mesmo o tempo! Pois, um filme, para ser considerado um clássico, seja qual tendência for, tem que ter no mínimo, 20 anos de existência e resistir ao tempo. Isto é, a sua "expressividade cinematográfica" ou a sua "novidade cinematográfica" têm que ainda ser reconhecida como válida e atual. No primeiro caso, a "expressividade cinematográfica" dou o exemplo de "E o Vento Levou" ou "Casablanca", entre tantos. Alguém poderia dizer: o que estes dois filmes têm em comum é que ambos pertencem ao chamado "Cinema Clássico Americano" (20-50), sendo que o primeiro foi uma superprodução e o segundo uma produção B. É verdade! Mas, além de serem da fase áurea do Cinema Clássico Americano, o que eles têm em comum é a sua extraordinária precisão e exatidão ou excelente e quase fiel adaptação a um texto clássico (ou roteiro original escrito à maneira clássica), neste caso "E o Vento Levou", roteiro baseado no best-seller de Margaret Mitchell; ou a sua inventiva, criativa e inteligente adaptação, tanto no roteiro ou nos seus diálogos, que coloca o filme, neste caso, “Casablanca”, como um dos filmes com a maior quantidade de frases inteligentes da história do cinema.
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A emoção de "E o Vento Levou".
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Os diálogos inteligentes de "Casablanca".
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Só de curiosidade, até chegar ao roteiro que tornou “Casablanca” um clássico, a história do filme percorreu um longo caminho. No verão de 1938, durante a ocupação européia, o escritor Murray Bumett visitou um café no sul da França que o inspirou no livro Everybody Comes to Rick's. Em 1941, ele o transformou em peça com a ajuda de Joan Allison. Antes de ser encenada (a peça), a Warner Bros comprou a história com o título de Casablanca. Escalou Michael Curtiz para dirigir o filme; Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, Howard Koch e Casey Robinson (este último não creditado) para montarem o roteiro e escreverem os diálogos; e, Humphrey Bogart e Ingrid Bergman para serem a dupla protagonista. Portanto, tanto no "Cinema Clássico Americano", o chamado "cinemão", geralmente melodramas; ou mesmo no cinema clássico (neste sentido acima - literário) inglês ou de qualquer outro país, o que impera não é a originalidade, é a sua precisão. É a sua exatidão que toca precisamente a experiência do espectador e que faz com que nos identifiquemos com a narrativa, nos emocionemos diante duma imagem, ou algo que desperte a nossa emoção estética, algo que faz vibrar, e isto, apesar, de sua grande maioria, terem mais de 50 anos de idade!
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No segundo caso, "novidade cinematográfica", como o próprio nome diz, são filmes que impõem ao meio novidades cinematográficas, tanto em relação ao roteiro ou como forma de filmar as cenas. Neste caso, dou como exemplo "Cidadão Kane", embora pertença ao meio, digamos assim, "Cinema Clássico Americano", é um filme clássico no sentido de que impôs uma forma diferente (ou conhecida, mas utilizada como forma condutora e não apenas como um detalhe a mais para embelezar o filme) de fazer um roteiro e, principalmente, de como filmar as cenas, sendo que algumas de suas técnicas condutoras (como o nivelamento numa mesma cena do primeiro, segundo e terceiro planos, por exemplo) eram consideradas temerárias pelos profissionais da época, tanto que chamaram Orson Welles de "um jovem louco e mimado da RKO".
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As inovações técnicas de "Cidadão Kane".
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Lógico, entram também aqui as tendências, movimentos, estilos; na sua grande maioria, datados, isto é, pertenceram a uma certa época por causa dos mais variados motivos. Por exemplo, os primeiros e também os melhores filmes que representam o "Expressionismo Alemão" (O Gabinete do Dr. Caligari), "Neo-realismo Italiano" (Ladrões de Bicicletas), "Nouvelle Vague" (Acossados), "Film Noir" (O Falcão Maltês), e assim por diante. O que estes filmes têm em comum é a novidade cinematográfica, mas, necessariamente, eles não precisam serem grandes filmes. Muitos clássicos, que contribuíram com o cinema com suas novidades cinematográficas, são filmes ruins ou então estão superados, sendo que dificilmente conseguiria entreter alguém. Aliás, este é o grande "mal" do cinema de hoje, enfiar goela abaixo do espectador, filmes e mais filmes de puro entretenimento, deixando a arte, de lado. Mas isto é outra conversa.
Definimos então que um clássico é um filme que impôs uma moda tanto de expressão como de novidade cinematográfica. E que a diferença básica dos dois casos, é que no primeiro, são na sua esmagadora maioria, grandes filmes; e no segundo caso, nem sempre, têm muitos filmes meia-boca ou até mesmo ruins, neste grupo, que são, no entanto, clássicos, por direito.
Por fim, quatros últimos pontos: não se pode dizer (como escrevem muito por aí) que este ou aquele filme é um clássico só porque a pessoa gosta do filme ou o filme é uma ótima produção; que quando se fala em clássico não é uma questão de gosto, mas de direito; que nem todo filme antigo é um clássico, como muita gente erroneamente pensa; e que quem define, com as observações ao longo do tempo, se um filme é um clássico ou não, é a crítica especializada mundial e não o cinéfilo.
Portanto, esta página é para falar dos clássicos consagrados e aqueles nem tanto, mas que contribuíram com a arte cinematográfica, e que são outorgados pela crítica especializada internacional, independente se eu gosto dos filmes ou não. Direito é direito!!
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